Província de Jujuy,
no norte do país, pretende produzir até 300.000 litros de óleo em
cinco anos
Buenos Aires 10 FEV
2019 - Jujuy, uma província que faz fronteira com a Bolívia, de
pouco mais de 700.000 habitantes, será a primeira da Argentina a
cultivar sem restrições legais maconha para uso medicinal. O
Governo local conseguiu a autorização nacional para importar
sementes e iniciar testes piloto em uma fazenda de propriedade
pública, passo anterior à elaboração e distribuição do óleo da
cannabis. Para isso criou a empresa pública Cannabis Avatãra, a
primeira de seu tipo no país. Outra empresa, mas privada, a
norte-americana Green Leaf International, subsidiária da Player
Networks, colocará a experiência e 100% do dinheiro necessário
para financiar o projeto.
O Congresso
argentino aprovou em março de 2017 uma lei que autoriza o uso
medicinal da maconha. Limitou as permissões ao tratamento da
epilepsia refratária e como, ao mesmo tempo, manteve a proibição
do cultivo próprio, habilitou sua importação até o Estado reunir
condições de produzi-lo. Como o Estado não pareceu muito
interessado em avançar na produção nacional do óleo, os pacientes
ainda devem pagar 400 dólares (1.490 reais) por uma garrafa de 100
mililitros de óleo, suficientes, no melhor dos casos, para um mês
de tratamento. O valor supera em quase 90 dólares (330 reais) o
salário mínimo de um argentino e força os pacientes a cultivar por
conta própria, correndo o risco de ser condenados a até 15 anos de
prisão, e recorrer ao mercado clandestino. Lá, o preço baixa para
até 40 dólares (150 reais), mas por um medicamento sem controle
algum e eficiência imprevisível.
O Governo de Jujuy
prometeu que com a Cannabis Avatãra cumprirá o capítulo da lei que
habilita a produção nacional de óleo de cannabis. “A ideia é
que o Estado seja um fornecedor seguro”, diz Gastón Morales,
presidente da empresa pública e filho do governador da província, o
governista Gerardo Morales. A previsão é produzir 300.000 litros de
óleo em cinco anos, suficientes para abastecer o mercado local e
exportar os excedentes.
“Qualquer avanço
é bom, porque hoje todas as mães vão ao mercado clandestino ou
precisam cultivar”, diz María Elena Vildoza, da Cannabis Medicinal
Jujuy. María Elena é a mãe de Gael, um garoto de quatro anos que
sofre de epilepsia refratária. “Quando não pudemos comprar
maconha por seu preço, deixamos de dar a ele a dose durante um
tempo. Gael então voltou a convulsionar, começou a se isolar e
parou de se alimentar. Com o óleo voltou novamente à vida”, diz.
O projeto de Jujuy
teve todo o apoio do governo de Mauricio Macri, fundamental para a
aprovação das autoridades de saúde e permissões fiscais. Nessa
semana, o ministério de Segurança deu o sinal verde ao uso de até
15 hectares da fazenda El Pongo, de propriedade pública, onde serão
plantadas as primeiras sementes antes da experiência em grande
escala. “Em duas ou três semanas chegarão as primeiras sementes e
em setembro já poderemos passar da etapa piloto à industrial”,
diz Morales. Depois se iniciarão a produção do óleo e os trâmites
na Anmat, o órgão que deve aprovar sua venda como medicamento.
As mães da Cannabis
Medicinal Jujuy estão a par do projeto desde o começo. Receberam a
promessa de que receberão o óleo de graça. “Por enquanto são
projetos, será preciso ver o que ocorrerá factualmente”, diz
Vildoza. “Sabemos que será cultivada, mas não sabemos quais
sementes irão trazer, quantas foram autorizadas. As mães que
cultivam sabem qual planta seus filhos precisam, eu quero o óleo
para meu filho, é a única coisa que me interessa”, afirma.
María Laura Alasi é
mãe de Josefina, uma garotinha de seis anos que na pior etapa da
doença chegou a ter 600 espasmos por dia. “Ela tomava seis
anticonvulsivos por dia e agora só toma um e o óleo. Seus espasmos
se reduziram a 20 por semana”, diz. Seu caso é conhecido porque
Alasi foi a primeira argentina a conseguir a autorização para
importar o óleo. Hoje lamenta que o Estado nacional não tenha se
encarregado da produção nacional do medicamento e não permita o
cultivo próprio. Mora em Buenos Aires, mas acompanha o projeto em
Jujuy. “Por ser um projeto de capitais privados será um negócio e
acabará funcionando, mas o risco é que o óleo não chegue às
pessoas de baixa renda”, diz. Morales afirma que os benefícios
serão enormes. “É uma questão de saúde pública”, acrescenta,
“porque a força terapêutica da planta de cannabis está provada”.
Fonte: El Pais.
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