Grupo
norte-americano Altria compra 45% das ações do produtor canadense
Cronos para tentar se expandir além do tabaco
Nova York 11 DEZ
2018 - A indústria do tabaco começa a apostar no florescente
mercado da maconha. O grupo Altria, que entre suas marcas mais
populares controla os cigarros Marlboro, começa a ocupar o terreno
ao comprar ações da canadense Cronos, fabricante legal de maconha.
A manobra procura abrir caminho para outras áreas além do cigarro
tradicional, cujas vendas estão se desacelerando.
A Altria desembolsou
1,8 bilhão de dólares (sete bilhões de reais) para assumir 45% das
ações da Cronos. É uma quantia pequena em comparação aos 25,6
bilhões de dólares que o conglomerado norte-americano faturou em
escala global no ano passado. Mas a manobra poderia servir para
marcar o começo de uma nova indústria à medida que o consumo da
cannabis seja regulamentado.
A empresa tem um
dilema. Atualmente controla 45% das vendas de cigarros nos EUA. O
negócio é muito rentável: gera um lucro operacional de 8,4 bilhões
de dólares por ano. Mas, ao mesmo tempo, a Altria precisa pensar no
futuro e, para isso, controlar o produto fadado a substituir o tabaco
parece uma boa opção, e ela tem recursos mais do que suficientes
para sondar novas águas e assumir riscos.
A empresa matriz da
Philip Morris levará à Cronos sua experiência de comercialização
do tabaco, um fator que pode ser importante quando, num futuro não
tão longínquo, a comercialização da maconha começar a ser
padronizada em escala global. A Altria se reserva, além disso, a
opção de continuar elevando seu investimento até assumir o
controle de sua sócia se considerar oportuno. A Canopy Growth, rival
da Cronos, já recebeu uma injeção de quatro bilhões de dólares
da Constellation Brands, dona da cervejaria Corona.
Mas o futuro do
negócio dependerá, em grande medida, do tempo que os EUA levarão
para abrandar as regras em nível federal. O mercado da maconha é
atualmente estimado em seis bilhões de dólares, com a previsão de
chegar aos 10 bilhões nos próximos anos, à medida que mais Estados
do país aprovam seu consumo para fins medicinais e recreativos.
Todas essas manobras alimentaram o entusiasmo entre os investidores.
O Canadá autorizou
há dois meses o consumo recreativo da cannabis. Howard Willard,
executivo-chefe da Altria, observa que o investimento na Cronos
“representa uma nova e estimulante oportunidade de crescimento”
para a companhia, porque lhe permite se posicionar desde o começo em
um “setor global emergente”, que crescerá “rapidamente durante
a próxima década”.
Perda de brilho nas
Bolsas e diversificação
A Altria busca,
paralelamente, uma diversificação urgente na sua carteira, indo
além dos produtos tradicionais à base de tabaco, com uma forte
aposta no cigarro eletrônico. Há semanas especula-se que a empresa
estaria negociando a aquisição de uma participação na Juul Labs,
líder no setor dos cigarros eletrônicos, que está hoje sob forte
pressão nos EUA por seu elevado consumo entre adolescentes.
As ações da Altria
perderam um quarto de seu valor no último ano. Depois do anúncio da
sexta-feira, entretanto, recuperaram 2%, enquanto as da Cronos
tiveram alta de mais de 30% em uma só sessão. “É o sócio
ideal”, afirma Mike Gorenstein, seu executivo-chefe, “porque nos
dá os recursos e a experiência de que necessitamos para poder
acelerar de forma significativa nossa estratégia de crescimento”.
Há, entretanto, um
aspecto na operação que pode se chocar com o consumidor de maconha.
A Altria é uma das corporações mais odiadas, porque o produto que
vende tem graves consequências para a saúde, derivados da combustão
do tabaco. A Cronos, por sua vez, concentra grande parte de seus
ativos no negócio da maconha medicinal. Resta ver como essa aliança
irá alterar a percepção social sobre a marca.
A injeção de
liquidez que a Altria oferece lhe permitirá não só reforçar sua
infraestrutura de distribuição, aproveitando a escala global do
conglomerado. Também lhe abrirá o caminho para desenvolver novas
marcas e produtos. Além da Canopy, a Cronos tem outros concorrentes:
Tilray, Aphria e Aurora – na qual, especulou-se, a Coca-Cola
poderia estar interessada. A Lagunita, uma marca de cerveja
controlada pela Heineken, está vendendo água com infusão de
cannabis na Califórnia, onde a droga é legal, e a filial Molson
Coors tem uma empresa conjunta com a The Hydropothecary para
comercializar bebidas desse tipo no mercado canadense. Trata-se de um
mercado com muito futuro, sem dúvida, mas também muito concorrido.
Fonte: El Pais.
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