Naquela placa, havia
o debate sobre a origem da vida e a descoberta de que, pelo menos
para algumas células, a imortalidade existe.
Naquele 6 de
novembro de 1998 - o dia em que a descoberta foi publicada na Science
- Thomson já havia visto (quase) tudo o que iria acontecer nos
próximos 20 anos.
por Elena Dusi
10/11/2018 | Há
vinte anos, em um laboratório da Universidade de Wisconsin, James
Thomson olhou em um microscópio e viu o futuro escrito em um grupo
de células. Ele havia observado as primeiras células-tronco humanas
derivadas de um embrião. Naquela placa, havia o debate sobre a
origem da vida e a descoberta de que, pelo menos para algumas
células, a imortalidade existe. Havia a observação de que o
ponteiro do tempo na biologia pode ser revertido, já que as
células-tronco são células "bebês", com potencialidades
infinitas, nascidas de células adultas, os gametas dos pais. Grandes
promessas da medicina surgiram a partir daquela ocular: a
possibilidade de recriar em laboratório os mais de 200 tecidos
diferentes do corpo; de tratar doenças degenerativas, como Parkinson
e diabetes; de reconstruir órgãos inteiros para serem
transplantados.
"Não era
difícil intuir o potencial daquele passo à frente, e Thomson era um
cientista dotado de capacidade de visão", relata Pier Giuseppe
Pelicci, que orienta a unidade sobre os mecanismos moleculares do
câncer e o envelhecimento no Instituto Europeu de Oncologia. O
biólogo estadunidense não conseguiu prever alguns detalhes
realmente difíceis de imaginar, como a seita dos raelianos que por
volta do ano 2000 prometia clonar seres humanos para extrair
células-tronco, ou as clínicas que brotaram nos porões para vender
tratamentos que ainda não haviam sido testados. O caso italiano do
método Stamina tem centenas de paralelos no resto do mundo (alguns
ativos até hoje). "As promessas das células-tronco eram tão
ricas - continua Pelicci – que o risco de criar expectativas
excessivas era quase inevitável".
Vinte anos depois,
as células das maravilhas limparam o campo do problema ético: não
há mais necessidade de destruir embriões para obtê-las, desde 2007
é fácil fazê-lo em laboratório a partir de células adultas
(embora na terapia se confie mais naquelas embrionárias). Raelianos
e falsos clonadores se eclipsaram. "Fizemos enormes progressos
na compreensão da biologia das células-tronco - continua Pelicci –
antes conhecíamos apenas um tipo de célula imortal, aquelas do
câncer, que para obter tal prerrogativa precisam pagar o preço de
perder o controle.
As células-tronco,
diferentemente, podem se replicar indefinidamente, mantendo intacta
sua capacidade de se diferenciar nos vários tecidos do corpo".
Aquelas mesmas primeiras células observadas por Thomson ao
microscópio continuam a se replicar hoje nos laboratórios de todo o
mundo. A linhagens de células-tronco obtidas nos laboratórios de
Madison se multiplicaram por 20 anos e foram enviados pelo correio
5,200 vezes para 2.350 cientistas de 45 países e 6 continentes. De
1998 até hoje (excluindo países como a China que não publicam as
contas) seu estudo foi financiado com 2,2 bilhões de dólares (37
milhões na Itália) e gerou 3.900 patentes.
"Mas é verdade
- comenta Pelicci – que tínhamos a expectativa de mais curas para
os pacientes". Hoje existem cerca de trinta experimentos em
andamento com base em células-tronco embrionárias humanas. Não são
muitos. "Mas não vamos esquecer que nos últimos anos
assistimos a uma revolução: o uso de células-tronco ou de células
imunitárias para o tratamento de tumores. Formas de câncer sem
esperança hoje têm 30% de possibilidade de cura". E nos
próximos vinte anos? "Falaremos de técnicas contra o
envelhecimento, temos muitas cartas na mão". Original em La
Repubblica, 02-11-2018. Fonte: Dom Total.
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