terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Vida longa e morte súbita (SUDPAR)

Imbé, 10/02/2019
O tema morte é polêmico, e sei que não se recomenda tocar no assunto diante de pessoas que vivem com doenças crônicas graves, mas vou subverter esta ordem e tocar no assunto. Me desculpem, pois o tema está atravessado na garganta e tenho que falar. Ninguém é obrigado a ler.

Pois bem, vamos lá:

Dia desses fui no jantar de aniversário de 63 um grande amigo, minha próxima idade

O brinde, na ocasião festiva, foi: Vida longa e morte súbita!

O que mais posso querer? Depois de dito tudo?

O Parkinson me impôs pensar muito na finitude da vida. Esse brinde veio ao encontro às minhas últimas elocubrações a respeito. Dei uma pesquisada descompromissada e descobri que tenho alguma chance de “morrer bem”.

O que é uma morte súbita?
A definição exata de morte súbita ainda não é um consenso no meio médico. Alguns grupos definem a morte súbita como uma morte inesperada que ocorre tão rapidamente a partir do início dos sintomas que a sua causa não pode ser estabelecida de forma clínica com absoluta certeza. Essa definição descarta qualquer tipo de morte violenta, seja por homicídio, suicídio ou acidentes, assim como complicações de doenças previamente conhecidas, como infecções graves ou câncer e diria Parkinson.

Outros grupos preferem definir morte súbita como um evento que ocorre de forma, a princípio, inexplicável e que leva o paciente ao óbito dentro da primeira hora após o início dos sintomas. Também se enquadram no conceito de morte súbita as pessoas que são encontradas mortas de forma inesperada e inexplicável.

Causas de morte súbita nos adultos
Na grande maioria dos casos de morte súbita, a causa tem origem no coração. Problemas pulmonares, vasculares e cerebrais também podem levar o paciente a um óbito de forma súbita e inesperada.

Na verdade, existem dezenas de causas possíveis para uma morte súbita. Situações como ingestão acidental de veneno, choque elétrico de alta voltagem ou asfixia após se engasgar com um objeto ou alimento podem causar uma morte súbita. Mas não é sobre esse tipo de morte súbita, ocasionada por situações acidentais, que quero falar. O que se descreve a seguir são mortes súbitas provocadas por eventos naturais, ou seja, desencadeada por alguma doença ou defeito do organismo.

Infartos fulminantes são a forma mais comum de morte súbita e ocorrem por dois mecanismos básicos, mas não faz parte do repertório de um cara com Parkinson. Arritmias malignas também normalmente não pertencem ao repertório de um cara com Parkinson.

Mas como as pessoas morrem desta doença?
O próprio Parkinson não é considerado uma doença mortal, e muitas pessoas com a doença têm uma expectativa de vida próxima à média da expectativa de vida da população em geral, de acordo com a Fundação da Doença de Parkinson.

"Você morre com a doença de Parkinson, não por ela", segundo a Fundação Michael J. Fox para a Pesquisa de Parkinson. Mas, em alguns casos, os sintomas avançados da doença de Parkinson podem levar a complicações que resultam em morte, diz a Michael J. Fox Foundation. Por exemplo, os pacientes podem ter problemas para engolir porque têm uma perda de controle sobre os músculos da garganta.

Problemas de deglutição podem fazer com que os pacientes inalem pequenos pedaços de alimentos, o que pode resultar em pneumonia por aspiração, uma infecção dos pulmões que pode ser fatal. Um estudo de 1999 com pessoas com doença de Parkinson que acompanhou pacientes por 10 anos descobriu que a pneumonia era a causa mais comum de morte nesses pacientes, causando quase um terço de todas as mortes entre os pacientes no estudo.

Os pacientes também podem ter um equilíbrio prejudicado, o que pode resultar em quedas que levam a lesões graves ou mesmo fatais, diz a Michael J. Fox Foundation.

Um estudo de 2010 com mais de 200 pessoas com doença de Parkinson na Noruega descobriu que, em média, os pacientes foram diagnosticados com a doença aos 65 anos, e viveram 16 anos após o diagnóstico, aos 81 anos, segundo a Fundação Parkinson. Aqueles que viveram com a condição por um tempo menor do que a média tendem a ser do sexo masculino, têm problemas mais sérios com seus movimentos (em particular, problemas com equilíbrio e andar) ou têm sintomas de demência junto com a doença de Parkinson.

Estudo japonês diz que, entre pessoas com Parkinson, as principais causas de morte foram pneumonia e bronquite (44,1%), neoplasias malignas (11,6%), cardiopatias (4,1%), infarto cerebral (3,7%) e septicemia (3,3%). A hemorragia cerebral foi a 11ª causa de morte mais frequente, representando apenas 0,8% das mortes entre os pacientes, enquanto foi a 5ª causa mais comum de morte entre a população geral japonesa em 1985. A baixa incidência de hemorragia cerebral como causa de morte a morte em pacientes com doença de Parkinson pode refletir o efeito hipotensor da levodopa e um mecanismo hipotensivo devido à redução dos níveis de noradrenalina no cérebro Parkinsoniano.

Bom, aí de morte súbita fica meio difícil, então descobri que existe o SUDPAR (sudden unexpected death in Parkinson’s disease). SUDPAR é uma categoria de morte em indivíduos com DP e não uma condição do transtorno. Como tem sido amplamente discutido na epilepsia, a SUDPAR é particular - difícil de investigar em estudos translacionais devido a sua raridade e a insuficiência de exames pós-morte. SUDPAR poderia ser definido simplesmente como a morte de um paciente com DP sem qualquer causas de morte determinadas por autópsia.

Mas que bicho será este?

Aquela tonteira que te deixa ver tudo preto quando nos penduramos numa barrra horizontal mais alta que o corpo e nos seguramos com os braços esticados? Ou aquela tonteira ao levantarmos peso que nos deixa zonzo e vendo tudo preto quando está muito calor? Em suma, o que nos leva a apagarmos, turn off para sempre?

O calor, visto neste presente verão é um ingrediente que penso seja crucial para uma morte súbita. Já no inverno fica meio difícil, uma vez que normalmente estamos com o metabolismo em stand by, meio que hibernando.

O tema é controverso, desde a origem, se devemos tocá-lo, e talvez acordá-lo indevidamente. Mas é um tema inegavelmente relevante. Enfim, se fosse morrer hoje e tivesse opção de escolher a forma, tá decidido, SUDPAR - morte súbita inesperada para parkinsonianos, nome chic para escolher o fim. Fontes livres: MD Saúde e Revistas USP. Veja mais aqui: 14 March 2020 - We never speak about sudden unexpected death in Parkinson’s disease, e aqui.

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