O
psicofarmacologista Elisaldo Carlini prestou depoimento à polícia
de São Paulo. É pesquisador da Unifesp e estuda os efeitos
medicinais da maconha há 50 anos
22 de Fevereiro 2018
- Um dos maiores especialistas em entorpecentes do Brasil, o
psicofarmacologista Elisaldo Carlini foi intimado a depor à polícia
de São Paulo nesta quarta-feira (21), acusado de fazer apologia ao
crime.
Dr. Carlini, hoje
com 88 anos, é professor emérito da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Ele foi um dos pioneiros no Brasil na
pesquisa sobre o efeito da maconha no organismo humano, tema ao qual
se dedica há 50 anos.
Nas décadas de 1970
e 1980, liderou na Unifesp um grupo de pesquisa que, junto a outros
estudos internacionais, possibilitou o desenvolvimento de
medicamentos à base de Cannabis sativa, utilizados em vários países
para tratamento de epilepsia e esclerose múltipla, por exemplo.
Pelo seu trabalho
como pesquisador, foi condecorado duas vezes pela Presidência da
República durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Está no
sétimo mandato como membro do Expert Advisory Panel on Drug
Dependence and Alcohol Problems, da Organização Mundial da Saúde
(OMS), e é ex-membro do Conselho Internacional de Controle de
Narcóticos (INCB), eleito pelo Conselho Econômico Social das Nações
Unidas.
Contrário ao uso
recreativo da maconha, é defensor ferrenho da aplicação medicinal
da planta.
“Bom, por tudo
isso não parece que eu seja um criminoso, né? Mas ontem eu fui
prestar declarações à polícia por apologia ao crime. (…) Fiz a
declaração, não tenho medo nenhum, mas me dá pena, fico sentido
que o Brasil esteja nessa situação. Não sou eu que não mereço, é
a ciência brasileira que não merece, porque tem outros que estão
em igualdade comigo. É um trabalho seríssimo”, disse Carlini em
entrevista ao Nocaute. Assista ao trecho abaixo:
Transcrição:
Eu fui citado mais
de 12 mil vezes pelo mundo. Eu fui condecorado duas vezes pelo
presidente da República. Nas duas vezes foi uma recepção de honra,
no Palácio do Planalto, e FHC me entregou pessoalmente uma
condecoração Grande Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, especial do
Itamaraty, a outra foi um medalhão científico. Duas universidades
me deram título de doutor honoris causa, o ministério da Justiça
me deu o título de pesquisador emérito e a Unifesp, de professor
honorário.
Bom, isso tudo não
me faz parecer um criminoso. Mas ontem prestei declarações na
delegacia de polícia por apologia ao crime. Um juiz qualquer, não
sei quem. A lei brasileira diz exatamente isso. É crime quem
propagandeia, produz, fuma. Eu cometo então realmente um crime que
não era seguido, né? Mas me pegaram e agora tenho que responder.
Não culpo muito o juiz e o delegado que fizeram isso, não. Porque,
na realidade, se eu fosse um juiz ou um delegado, 100% fiel às leis,
e realmente não olhasse o legal e o legítimo, só o que vale é a
lei, o legal, eles tinham que me pegar.
Ninguém faz isso
mais. O mundo inteiro me chama. Fui chamado inúmeras vezes, dei
conferência na faculdade de direito, 3 ou 4 conferências para os
advogados da OAB, a convite deles. Então na verdade deve ser alguém
que estava de muito mau humor que fez isso. Fiz a declaração, não
tenho medo nenhum, mas me dá pena, fico sentido que o Brasil esteja
nessa situação. Não sou eu que não mereço, é a ciência
brasileira que não merece, porque tem outros que estão em igualdade
comigo. É um trabalho seríssimo. Fonte: Nocaute.
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