Moraes pretende
focar principalmente nas plantações em território paraguaio,
considerado um dos principais exportadores do entorpecente no
continente
17 Dezembro 2016 |
SÃO PAULO - O Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, quer
erradicar o comércio e uso de maconha no País. O objetivo integra
os termos do Plano Nacional de Segurança , cujo conteúdo foi
apresentado a especialistas e pesquisadores da área no início desta
semana e já foi alvo de críticas. Para isso, Moraes pretende focar
principalmente nas plantações em território paraguaio, considerado
um dos principais exportadores do entorpecente no continente, mas há
também o objetivo de realizar parcerias para combater laboratórios
da droga na Bolívia e no Peru.
A intenção
ambiciosa vai, de acordo com especialistas ouvidos pelo Estado, na
contramão da política antidrogas na maior parte do mundo, que tem
avançado em debates pela descriminalização e legalização da
maconha frente a opção da “guerra às drogas”. Mesmo assim, a
pasta pretende injetar recursos para fazer com que o fluxo da droga
diminua e, eventualmente, cesse em todo o território nacional.
Moraes convidou
representantes de cinco instituições civis que atuam na área da
segurança para apresentar o conteúdo do plano, que está em
elaboração e tinha previsão inicial de lançamento para este mês.
Em duas horas e meia, o ministro detalhou como deverá ser executada
a iniciativa, mostrando informações em mais de 90 slides de uma
apresentação de power point. Quando se referiu a um dos eixos do
plano, o combate a crimes transnacionais, Moraes expôs, em um slide
com uma planta de maconha ilustrativa, a sua visão sobre o assunto.
Em viagem ao Paraguai em julho deste ano, o ministro foi visto
cortando pés de maconha munido de um facão.
“É uma ideia
absolutamente irreal, de uma onipotência, querer reduzir
drasticamente a circulação de maconha na América do Sul, como ele
falou. É grave ele achar que vai ter esse poder. O plano Colômbia
fez com que os Estados Unidos injetassem bilhões de dólares contra
as plantações de coca e isso não foi suficiente”, disse Julita
Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania da Universidade Cândido Mendes e ex-diretora-geral do
sistema penitenciário do Estado do Rio, que participou do encontro
no gabinete da presidência em São Paulo, localizado na Avenida
Paulista.
Em novembro, Moraes
já havia participado de um encontro com países do Cone Sul para
discutir combate ao crime na região de fronteira. Na oportunidade,
ele destacou a necessidade de se aumentar o número de operações
coordenadas com os vizinhos, ampliando a cooperação entre as
polícias. Além do combate às drogas, compõe o eixo de crimes
transnacionais, o enfrentamento ao tráfico de armas, ao tráfico de
pessoas e ao contrabando.
“Comecei a
trabalhar na área da segurança nos anos 1980. Estou nessa há 30
anos, me sentei com vários ministros e ouvi vários planos, mas esse
é o pior”, completou Julita. Isso porque, segundo ela, além da
proposta no campo das drogas, o plano se estende por outros três
eixos (combate à violência doméstica, redução de homicídios e
modernização do sistema penitenciário) e peca por ser
“megalomaníaco”, com ideias que “custariam um orçamento que
ele não tem”.
O Estado ouviu
outras duas pessoas que participaram do encontro e ratificaram o
conteúdo das propostas, também fazendo críticas ao que
consideraram mais um manifesto com pouco foco. Em comum, a ponderação
de que a atuação do Ministério da Justiça não conta com
propostas de outros setores do governo, principalmente da área
social, e tem contra si poucas e frágeis ideias no campo da
prevenção dos homicídios, em especial direcionada à população
jovem negra da periferia.
O plano aborda
quatro eixos de prevenção: capacitação para agentes de segurança
- visando a reduzir a letalidade policial -, aproximação entre
polícia e sociedade - com aperfeiçoamento dos conselhos
comunitários de segurança - inserção e proteção social - focado
na redução da violência doméstica - e cursos profissionalizantes
de arquivistas. Esta última ideia, classificada como inusitada e
ingênua por mais de um especialista, foi explicada por Moraes: como
o Arquivo Nacional está sob controle da pasta de Justiça, há a
possibilidade de os profissionais oferecerem tal curso.
Recuo. O Ministério
da Justiça decidiu recuar da intenção de usar verbas do Fundo
Penitenciário Nacional (Funpen) para investimentos na polícia dos
Estados e na Força Nacional, inclusive para compra de equipamentos e
pagamento de salários. O Estado divulgou em novembro que Moraes já
havia preparado uma minuta de Medida Provisória prevendo a alteração
na previsão de uso das verbas do fundo visando a principalmente ter
margem para investir os recursos.
A decisão ocorreu
após a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Carmen
Lúcia, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, segundo
apurou o Estado, procurarem a pasta para informar que, caso a medida
fosse tomada, ela seria judicializada imediatamente. O STF determinou
em julgamento em setembro de 2015 que as verbas, que hoje somam cerca
de R$ 3 bilhões, não podem mais ser contingenciadas. O presidente
Michel Temer informou em outubro que R$ 788 milhões devem ser
liberados no início do ano que vem.
Posicionamento. Em
nota divulgada neste sábado, 17, o ministério classifica como
“despreparados e rasos” os comentários da professora Julita,
que, na visão da pasta, demonstra “total desconhecimento da
proposta conjunta do Ministério da Justiça e Cidadania, Ministério
da Defesa, GSI e Ministério da Relações Exteriores, em relação
ao combate à criminalidade transnacional, em especial, tráfico de
drogas, de armas e contrabando, que financiam o crime organizado no
Brasil".
A pasta destacou que
a proposta principal do plano em relação ao crime organizado será
“o fortalecimento das ações de inteligência em conjunto das
forças policiais federais e estaduais, com utilização e integração
de tecnologia e sistemas utilizados durante as Olimpíadas, como foi
exposto na reunião.”
O ministério disse
lamentar ainda que “sem aguardar o envio integral das propostas até
agora discutidas, como havia ficado combinado entre os participantes,
críticas superficiais, infundadas e falsas tenham sido feitas”.
Pesquisadores confirmaram ao Estado que já haviam proposto ao
ministro o envio completo do projeto antes da realização da
reunião, para análise mais aprofundada do que está sendo
discutido, o que não foi atendido. O envio do power point da reunião
da segunda-feira passada também não havia ocorrido até a noite
deste sábado.
Também em nota, o
ministério disse que os valores do Funpen deverão ser
descontingenciados para o próprio sistema penitenciário, “com
prioridade absoluta para construção de presídios, estabelecimentos
semiabertos e efetivação de melhores e mais seguras condições
para cumprimento de penas” - a pasta prevê a construção de 27
novas unidades. “Nenhum recurso do Funpen será utilizado para
manutenção ou ampliação da Força Nacional”.
Previsto
inicialmente para ser lançado em dezembro, a pasta informou que a
finalização do projeto deve ficar para janeiro. “No mês de
janeiro, o ministro Alexandre de Moraes se reunirá com os
governadores, em seus respectivos Estados, para que seja finalizado o
Pacto e, consequentemente, divulgado o Plano Nacional.” Fonte: OEstado de S.Paulo.
- As idéias do nosso ministro da Justiça são ridículas, só falta agora dizer que vai acabar com a prostituição, a profissão mais antiga do mundo;
- Infelizmente temos um governo acéfalo, ou muito esperto: O que dizer do projeto que muda Lei Geral de Telecomunicações, que só depende de sanção de Temer, vai transferir a empresas bens que hoje são da União? Quem vai ganhar com isso afora as teles? Precisamos urgente de uma operação "cotonetes" para investigar a corrupção nas teles, por enquanto abafada pela lava-jato.
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