Os usuários alegam
que a substância, encontrada até mesmo em sorvetes e cremes
faciais, combate também diversos outros males
16 Novembro 2018 |
Com seus defensores alegando que o canabidiol (CBD) serve como
tratamento para inflamação, dor, acne, ansiedade, insônia,
depressão, estresse pós-traumático e até câncer, é fácil se
perguntar se esse primo da maconha, natural, não psicotrópico e
amplamente disponível, não representaria uma cura para o próprio
século 21.
"No momento, o
CBD (substância química encontrada na planta da cannabis) é o
equivalente químico do Bitcoin em 2016", disse Jason DeLand,
executivo de publicidade de Nova York e membro do conselho da Dosist,
empresa de maconha da Califórnia que produz vaporizadores
descartáveis para o consumo de CBD.
Uma empresa que
desenvolve produtos à base de Cannabis afirma que a substância
alivia o estresse, reduz a dor e melhora a cognição.
Com a inclusão do
CBD em produtos de todo o tipo - espuma de banho, biscoitos caninos e
sorvete -, é difícil exagerar ao comentar a velocidade com que a
substância passou de uma posição marginal para outra central na
cultura. Há um ano, poucos tinham ouvido falar do CBD. Agora, para
se ter uma medida da empolgação em torno desse elemento, é como se
todos tivessem subitamente descoberto a ioga. Ou a penicilina. Ou
talvez o oxigênio.
Diferentemente de
seu primo mais famoso, o THC (tetrahidrocannabinol), o CBD não deixa
o usuário chapado. Os consumidores falam numa sensação de
bem-estar "corporal", diferente da alteração da
consciência.
"Do ponto de
vista físico, é como tomar um banho quente e acabar com a tensão",
disse Gabe Kennedy, 27 anos, um dos fundadores da Plant People, uma
startup de Nova York que vende CBD. "Tem-se uma sensação de
equilíbrio e calma, principalmente pelo corpo, e a cabeça parece
mais atenta". Comparando essa sensação àquela provocada por
uma intensa sessão de meditação, Kennedy acrescentou que o brilho
do CBD parece ser "transmitido pela sinergia" em termos de
conexões sociais.
Toda era é definida
por um mal psicológico e pelo medicamento a ele correspondente. A
condição que define nossos tempos é a ansiedade: em relação à
política, à mudança climática, ao terrorismo, ao fardo dos
empréstimos estudantis, e até em relação à inteligência
artificial, que roubaria de nós os melhores empregos.
É um momento muito
conveniente para a Mãe Natureza nos apresentar uma cura que reúne
simultaneamente tantos ramos da cultura: nossa obsessão com o
autocuidado e o bem-estar, a chegada de terapias alternativas ao
grande mercado e a constante marcha da legalização da maconha.
A indústria da
saúde e da beleza é a que parece ter adotado o CBD com maior
ímpeto, incluindo a substância em cremes, máscaras para dormir,
xampus, condicionadores, colírios, óleos para massagem, sabões,
protetores labiais, espuma para banho, cremes antirrugas, pomadas de
relaxamento muscular, hidratantes e loções.
Como tratamento de
saúde alternativo, o CBD é particularmente atraente para as
mulheres, segundo Gretchen Lidicker, 26 anos, editora de saúde do
site Mindbodygreen, dedicado ao bem-estar, com sede em Nova York.
"Faz tempo que as mulheres se sentem ignoradas e desumanizadas
pela indústria da saúde", disse ela.
Quando as pessoas
procuram café com leite de coco embebido em CBD como cura para a
acne e a disfunção erétil, torna-se difícil separar os fatos
científicos da empolgação dos consumidores. Talvez os céticos,
para quem o CBD seria apenas a versão contemporânea do óleo de
cobra chinês, fiquem surpresos ao saber que a substância é
estudada como tratamento potencial para males tão diferentes como
esquizofrenia, insônia e câncer.
"O CBD é o
remédio mais promissor que emergiu para doenças neuropsiquiátricas
nos últimos 50 anos", disse Esther Blessing,
professora-assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de
Nova York, que comanda um estudo do CBD como tratamento para o
estresse pós-traumático e abuso do álcool.
"A substância
é promissora porque apresenta uma combinação de segurança e
eficácia para uma gama muito ampla de situações", explicou.
Isso não significa
que uma jujuba embebida em CBD deva ser considerada um remédio.
"No caso da
maioria desses produtos que trazem o CBD acrescentado ao café ou a
algum alimento, não há evidências concretas de que sua
concentração de CBD seja suficiente para produzir algum efeito",
disse Elisabeth, acrescentando que boa parte da pesquisa está em
fase inicial, e a dosagem e grau de pureza dos produtos podem ser
pouco confiáveis. Além disso, ela destacou que o CBD pode produzir
efeitos negativos se combinado com outros remédios.
DeLand afirmou que o
CBD traz benefícios, mas é necessário aprofundar as pesquisas.
"É claro que
não se trata de uma solução mágica para os problemas de saúde do
mundo. Estamos na ponta do iceberg em se tratando da descoberta de
seus usos terapêuticos, e como repeti-los", explicou. Fonte: O Estado de S.Paulo.
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