A tecnologia
aproximou o diagnóstico médico
19/10/2018 -
Coordenador do Núcleo de Excelência em Inovação de Software
(Softwarelab), professor do PPG em Computação Aplicada da Unisinos.
Este artigo integra a seção Horizontes, publicada no caderno DOC.
Trata-se de um espaço para discutir ideias e pesquisas, no mercado e
nas universidades, que nos fazem vislumbrar um futuro cada vez mais
próximo.
A tecnologia tem o
potencial de transformar a área da saúde. A revolução dos
smartphones, dos wearables (computadores vestíveis) e da
inteligência artificial permite tornar a saúde mais proativa. O
smartphone, hoje, já coleta informações como o números de passos
dados ou a distância que percorremos durante o dia. Com a conexão
de acessórios ao celular, é possível transformá-lo em um potente
equipamento de diagnóstico, permitindo realizar uma ecografia,
diagnosticar problemas cardíacos, observar o interior da orelha ou
examinar lesões na pele.
Muitas vezes
conectados aos smartphones, os wearables, como os smartwatches
(relógios inteligentes) e smartbands (pulseiras inteligentes),
também são capazes de coletar dados. Não só as atividades
físicas, mas também a frequência cardíaca, a qualidade do sono e
o nível de estresse. Conseguem inclusive realizar um
eletrocardiograma (ECG), traçando a atividade elétrica do coração.
Para além dos wearables de uso geral, há uma série de dispositivos
que permitem monitorar condições de saúde específicas, como medir
a temperatura corpórea, avisando, no celular, caso a pessoa tenha
febre. Outra possibilidade é implantar um sensor de menos de 1
centímetro no braço, que durante três meses mede a glicose e gera
avisos, permitindo um melhor controle para pessoas com diabetes.
Mais pesquisa,
melhores negócios: a fórmula para não ficar para trás na
Revolução Tecnológica
Por meio da
inteligência artificial, particularmente um conjunto de técnicas
denominado machine learning ("aprendizado de máquina"), é
possível processar os dados coletados, a sua correlação e a
detecção de possíveis patologias. Por exemplo, através da análise
do ECG realizado pelo smartwatch, um software em um smartphone pode
indicar determinadas condições cardíacas, como a fibrilação
atrial. O aprendizado de máquina pode permitir também o prognóstico
de patologias e indicar a necessidade de buscar um atendimento de
urgência.
As técnicas de
machine learning, que são a base da computação moderna, focam não
em dizer como um programa deve executar uma função, mas em apontar
qual método será usado para processar os dados recebidos e gerar
informação. Dentre as técnicas de aprendizado de máquina mais
usadas hoje, destacam-se as redes neurais artificiais. Essas redes
criam um modelo de neurônios artificias que estabelecem conexões,
de maneira análoga ao que ocorre no cérebro, permitindo que um
programa "aprenda" a partir da correlação dos dados que
recebe. As redes neurais artificias estão sendo aplicadas na área
da saúde com grande sucesso. Têm permitido, por exemplo, a
indicação de tratamentos para o câncer, a detecção de surtos de
doenças e a previsão do agravamento do estado de saúde de
pacientes.
Imagine a combinação
dessas tecnologias com nosso Registro Eletrônico de Saúde (RES). Já
pensou ter todas as informações relacionadas a sua saúde em um
repositório único, acessível via aplicativo? Com isso, a cada
interação com um provedor de saúde você pode compartilhar seu
RES, repassando ao médico o seu histórico de saúde, que, além de
conter as suas interações prévias com médicos, hospitais e
exames, indica os dados de seus wearables e smartphone. Estudos
mostram que manter o RES unificado de uma pessoa reduz o custo para o
sistema de saúde e permite maior correlação com doenças
pré-existentes. E também permite ao governo traçar melhor as
políticas públicas, podendo ainda servir como ferramenta para
pesquisa e prevenção. Seria possível, por exemplo, correlacionar
anonimamente dados de pacientes de determinada região, detectando
possíveis surtos ou epidemias.
Essas tecnologias
são o motor de uma grande transformação na medicina. O médico
americano Eric Topol, em seu livro The Patient Will See You Now
(Basic Books, 2016), afirma que vivemos hoje um “momento Gutemberg”
na área de saúde. Assim como Gutemberg, que com a prensa móvel
permitiu a difusão do conhecimento, os smartphones, os wearables e o
machine learning têm o potencial de transformação semelhante na
área da saúde. Transformação essa que tornará o paciente mais
ativo no gerenciamento de sua saúde e o médico, mais empoderado de
informações para tomar decisões. Fonte: Gaucha ZH.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Publicidades não serão aceitas.