Aseem Malhotra é
crítico de estudos científicos financiados por empresas e acredita
que o açúcar deveria ser uma substância controlada.
01/08/2018 - AseemMalhotra é um dos maiores críticos da medicina na atualidade. O
cardiologista é o responsável pelo movimento Choosing Wisely, que é
contra procedimentos médicos desnecessários e acredita no
empoderamento dos pacientes.
"A nossa missão
é promover conversas entre médicos e pacientes, ajudando os
pacientes a escolher o cuidado que é suportado por evidências,
livre de dano e realmente necessário", diz o site do movimento.
Malhotra também é
crítico do consumo de comidas ultraprocessadas e autor do livro "A
dieta de Pioppi", traduzido no Brasil como "Detox de 21
dias".
No Brasil para o 1º
Congresso Internacional de Low Carb, ele conversou com o G1 sobre o
que diz ser uma epidemic de falta de informação na medicina e fez
duras críticas ao financiamento de estudos cientificos feitos por
empresas que têm interesse nos resultados, como as farmacêuticas.
"O fato de que
os sistemas de saúde ao redor do mundo estão em crise significa que
fizemos algo de muito errado e precisamos fazer algo para consertar,
mas isso demanda atitude, aceitação e ser profissional para
fazermos juntos"- Aseem Malhotra
Leia abaixo a
entrevista:
A medicina também
sofre com corrupção?
"O impacto da
corrupção na medicina é devastador. Isso é um problema gigantesco
e a raiz da crise de saúde. Precisa ser encarado. É preciso menos
influência da indústria farmacêutica nas pesquisas. Um dos
problemas é que aqueles com responsabilidade sobre a integridade
científica, médicos, revistas científicas, organizações,
compactuaram com a indústria por ganhos financeiros."
Como combater as
notícias falsas sobre saúde?
"O que
precisamos fazer como profissionais de saúde é tornar a medicina
boa novamente para que as pessoas confiem nas informações que são
ditas. O jeito de fazer isso é retirar os conflitos de interesse e a
influência da indústria nas pesquisas medicinais. Muitas das
pesquisas publicadas não são confiáveis porque o financiamento é
tendencioso. É financiado pelas empresas farmacêuticas cuja única
obrigação é o lucro, e não fornecer o melhor tratamento possível.
Mas precisamos
admitir 'erramos'. A ciência evolui. Eu faço isso com meus
pacientes o tempo todo, digo que sempre haverá incertezas, mas digo
que vou fazer o melhor por eles baseado em todas as informações que
temos. Quando todos os profissionais abraçarem essa ideia e
comunicarem ao público, então as pessoas não precisarão recorrer
às redes sociais para conselhos de saúde."
Você diz que
médicos também estão mal informados. Acredita que a medicina
precisa se reavaliar?
"Temos o total
colapso do sistema de saúde e uma epidemia de médicos mal
informados e pacientes prejudicados. Isso se deve a uma série de
fatores:
financiamento
tendencioso de pesquisas: pesquisas são financiadas em busca de
lucro e não porque beneficiará pacientes.
relatórios
tendenciosos em jornais médicos
conflitos de
interesses comerciais
uma má compreensão
de estatísticas médicas entre os médicos e pacientes
Temos a solução
para enfrentar isso, mas precisamos entender as raízes do problema
antes. E uma vez que os médicos entenderem isso, nós poderemos
-como profissão- fazer o que é melhor para nossos pacientes. Nenhum
médico faz medicina para machucar seu paciente."
Como pacientes e a
comunidade científica podem lutar contra a influência comercial?
"A maior arma
que temos contra essa falta de informação é a transparência.
Nossos políticos, médicos, todos devem ser responsabilizados por
decisões que eles tomam e influenciam o público, mas vai além
disso. É sobre democracia. Se você está tomando decisões sobre
sua saúde no dia a dia, baseado em informações tendenciosas dadas
a você, isto vai contra o princípio básico da democracia.
Precisamos admitir
que existe um problema no sistema. Tivemos a grande crise financeira
de 2008 porque não tinha regulamentação para parar o excessos e
manipulações das financeiras e das indústrias conectadas a elas.
Agora, temos a mesma situação com a medicina e a bolha vai estourar
logo. Do contrário nós, como sociedade, no mundo todo sofreremos.
Não podemos permitir que isso continue."
Como é o movimento
Choosing Wisely (escolhendo com sabedoria, em tradução livre)?
"O principal
sobre Choosing Wisely é empoderar pacientes para fazerem as
perguntas corretas aos seus médicos. Curiosamente, quando os
pacientes têm todas as informações sobre um procedimento ou um
medicamento, a maioria escolhe não tomar ou não fazer o
procedimento. O que o Choosing Wisely propõe para qualquer pessoa é
que ela se pergunte: eu realmente preciso disso? O que acontece se eu
não fizer? Existem outras opções? Se todos estão empoderados
também faz o médico pensar um pouco mais sobre o que está fazendo.
A boa notícia é que temos tantas informações e dados sobre o que
significa ter uma vida saudável e estes componentes não envolvem
tomar remédios.
"Boa saúde
raramente sai de um vidro de remédio"- Aseem Malhotra
O que você
apontaria como o inimigo número 1 da saúde pública atualmente? E
por quê?
"O maior
contribuinte para doenças relacionadas à alimentação e obesidade,
que é o maior fator para mortes e doenças crônicas no mundo
atualmente, é o alto consumo de comidas ultraprocessadas. Quando
você olha para o consumo de comidas deste tipo, a maior parte vem do
consumo de comidas com muito açúcar e amido. Isso aumenta as
chances para o fator de risco número um para ataques do coração
que é a resistência a insulina. Mas também é o caminho para a
diabetes tipo 2.
A melhor maneira de
controlar isso é ter uma dieta livre de comidas ultraprocessadas,
com particularmente pouco açúcar e poucos carboidratos
processados."
Você é muito
crítico do açúcar. Acha que o açúcar deveria ser "colocado
em julgamento"?
"Acho que a
evidência sobre o açúcar é muito clara: primeira coisa a se dizer
é que não existe uma necessidade biológica de açúcar. Não tem
valor nutricional. É uma das únicas coisas que ingerimos que
contribui para cáries, o que é um problema sério especialmente
para crianças.
E agora está
associado a diversas doenças metabólicas independentemente de
calorias. Ou seja, mesmo que você se exercite e não esteja acima do
peso ingerir muito açúcar vai te fazer mal. Existem quatro
critérios agora que indicam que deveria ser regulamentado:
é excessivamente
tóxico
é inevitável
porque é adicionado em tantas comidas processadas
tem potencial para
abuso
tem impacto negativo
na sociedade
Devemos aprender com
a história: a maior queda em mortes associadas a doenças
cardiovasculares em décadas aconteceu por causa de regulamentação
que focou na disponibilidade, acessibilidade e preço dos cigarros. "
O que você
considera uma dieta ideal para a maioria das pessoas?
"Acho que a
coisa principal é evitar ao máximo comida ultraprocessada. No Reino
Unido, metade da dieta alimentar é de comida ultraprocessada. O que
eu recomendo na dieta Pioppi é uma base com muitos vegetais, não
comer muitos vegetais amiláceos (considerado fontes de amido como
milho, batata e mandioca), azeite de oliva, castanhas todos os dias,
peixes oleosos, não consumir muito açúcar, evitar carboidratos
processados, ingerir laticínios gordurosos e concentrar-se em uma
boa nutrição. Se você fizer isso, melhorará em pouco tempo".
"Acho que a
mensagem principal é: voltem à maneira tradicional de comer.
Cozinhe em casa. Não coma comida que saiu de um pacote"- Aseem
Malhotra. Fonte: Globo G1.
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