À esquerda e ao centro, cérebros com Parkinson; à direita, um normal; a enfermidade é caracterizada pela perda da transmissão nervosa dependente da substância dopamina
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Um grupo de neurocientistas acaba de dar um importante passo para entender –e reverter– esse ainda obscuro aspecto da doença.
Um novo estudo, publicado na revista especializada "Nature Neuroscience", identificou que essas alterações na memória são causadas pela interação entre duas proteínas.
Velha conhecida dos cientistas, a proteína alfa-sinucleína –que se acumula no cérebro dos pacientes com Parkinson– reage a uma uma outra proteína, causando a combinação tóxica para o cérebro.
Faltava identificar que proteína era essa.
Uma equipe liderada pelos cientistas portugueses Luísa Lopes, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, e Tiago Outeiro, da Universidade de Goettingen, na Alemanha, fez precisamente isso.
O grupo descobriu que a proteína "misteriosa" leva o nome de PrP, e ela tem uma ação muito semelhante em casos de Alzheimer.
Os pesquisadores viram que a proteína PrP funcionava como uma espécie de sensor para a alfa-sinucleína, desencadeando uma série de efeitos que alteram a atividade dos neurônios.
"Nós focamos o trabalho na zona da memória, que é uma zona menos estudada em relação ao Parkinson. Não se sabia qual era a proteína-sensor da sinucleína nesses neurônios. E foi isso que nós percebemos, que era preciso ter a PrP, a tal proteína na membrana dos neurônios, porque se não tiver, não vemos a toxicidade", explica a neurocientista Luísa Lopes.
TRATAMENTO
Sabendo que o problema cognitivo do Parkinson está relacionado à interação dessas proteínas, os cientistas passaram então para uma nova etapa: encontrar algumas estratégias para impedir essa combinação.
Os portugueses testaram com sucesso duas abordagens. A primeira foi medicamentosa, com uma droga que se vale de anticorpos para bloquear a proteína PrP.
A segunda foi uma confirmação genética, com uma linhagem de camundongos transgênicos criados especificamente para não produzir a PrP.
Nos dois casos, os efeitos tóxicos da alfa-sinucleína foram anulados, provando que as duas proteínas realmente atuam em conjunto.
Luísa Lopes, que é especialista em circuitos de memória, destaca que foi um passo importante na busca por um tratamento eficaz para o Parkinson, mas que ainda é preciso cautela, uma vez que os resultados foram obtidos apenas em modelos animais.
CAFEÍNA
Uma vantagem, no entanto, é que o remédio usado pelos pesquisadores –um análogo da cafeína– já está sendo testado em humanos, mas para tratar os problemas motores do Parkinson.
A istradefilina (KW-6002) já passou por ensaios clínicos e teve sua segurança comprovada, o que poderia acelerar um eventual teste para avaliar sua eficácia também nos problemas de memória causados pela doença.
"É um fármaco análogo à cafeína, que nós já sabemos que ela tem um feito protetor no Parkinson, sobretudo nos homens", explica Lopes.
Identificando o alvo molecular a ser combatido, o trabalho abre espaço também para o desenvolvimento de outras drogas, ainda mais específicas, para combater a ligação das proteínas.
"É importante perceber o local exato de interação entre as proteínas para garantir que fármacos tenham menos efeitos colaterais, e que interfiram só quando esse mecanismo começa a ser tóxico, e não atrapalhem aquelas proteínas que são essenciais às sinapses no cérebro", diz Lopes. Fonte: Folha de S.Paulo. Leia mais sobre cafeína, clicando em "cafeína", no marcador abaixo.
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