sábado, 14 de outubro de 2017

Alterações de humor.

Todo diagnóstico está diretamente relacionado à mudanças e toda mudança gera medo e insegurança.
Quando neste diagnóstico consta a expressão "doença neurodegenerativa progressiva" a concepção de mudança toma uma conotação imensurável e os medos e inseguranças se agigantam.
As reações são as mais diversas, no entanto, mais cedo ou mais tarde, é comum a todos os envolvidos: portadores, familiares, cuidadores, ... a busca por informações.
Queremos saber com o que estamos lidando, qual o prognóstico e quais as mudanças que objetivamente ocorrerão em nossas vidas.
Com relação à Doença de Parkinson, quando o diagnóstico acontece e a busca por informações inicia dá um nó no cérebro. São tantos termos técnicos, sintomas motores e não motores, medicamentos, cirurgias, promessas milagrosas, pesquisas, especulações, especificidades de cada caso e consequentemente de evolução da doença... que a vontade é desistir.
Comigo não foi diferente. Eu procurava respostas e não encontrava.
Além de respostas objetivas, eu procurava acolhimento e esperança.
Foi nesse momento da minha vida que encontrei este blog e jamais imaginei que anos mais tarde estaria aqui escrevendo como colaboradora.
Relutei um pouco em aceitar por puro respeito a seriedade do trabalho realizado e pela importância que o blog Doença de Parkinson e seu administrador Hugo têm na minha história.
Bom, como vocês podem ver, eu aceitei o desafio.
E agora? Sobre o que escrever?
Eu só consigo lembrar da angústia a cada pergunta que eu me fazia e cada resposta que não me tranquilizava.
Então a minha proposta é escrever para vocês como sobreviver às mudanças, às angústias, às alterações de humor, às limitações, à insegurança diante de cada decisão a ser tomada, ...
A maioria das respostas que eu procurava estavam dentro de mim, assim, eu resolvi fazer uma viagem no tempo, lembrar dos sentimentos e de como lidei com eles.
Vou abordar vários assuntos cotidianos sem a intenção de ditar regras ou dar receitas milagrosas e sim instigar e provocar o pensamento com o máximo de bom humor e leveza.
Hoje o assunto é alterações de humor.
Durante um tempo as alterações de humor (sintoma típicos do Parkinsoniano) foram motivo de extrema insegurança e fragilidade para mim, um verdadeiro processo de reconhecimento que exigiu muita auto observação. Em um só dia são vários _ "Muito prazer, eu sou a Koka da hora."
Tentar fazer com que isso interfira o mínimo possível na vida daqueles que coabitam comigo é um exercício árduo, no entanto, passados cerca de dez ou quinze anos (é impossível definir o início dos sintomas) começa a ficar interessante.
A liberdade de "sentir" é ampla e irrestrita.
Permitir-me ao tristezão, sabendo que ele não será tão duradouro ao ponto de virar depressão, e à euforia, com a certeza de que não vai dar tempo de fazer loucuras (como achar que o mundo é lindo, as pessoas são maravilhosas, tudo é barato e eu posso comer o que quiser sem engordar) é muuuuuiiiito legal.
Ter a consciência dessa montanha russa e não mais temer as consequências é libertador e uma experiência riquíssima.
Permitir-se, eis a questão.
Acredito que passamos a maior parte da vida tentando ser coerentes, tentando nos adequar e isso é muiiiiiiiiito chato.
Eu quero mesmo é me experimentar e conhecer todas as Kokas que me habitam.
Não tenho tendência à violência e paciência eu nunca tive, então, vamos lá.
Aviso de utilidade: não confundam alterações de humor com bipolaridade ou compulsão e caso não consigam lidar sozinhos com qualquer uma delas, procurem ajuda profissional. 

4 comentários:

  1. Parabens Hugo pela mais nova colaboradora . Tenho muita admiração pela Koka, pela sua capacidade de dizer com palavras leves assuntos densos e difíceis no tom certo. Gosto do seu bom humor, da sua forma de escrever verdadeira, sem dramas, e pontuando os temas de forma segura e com responsabilidade. Tenho certeza que serei uma leitora assídua.

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    1. Obrigada Marilim, eu tenho bons exemplos de guerreiras como você e conto contigo para colaborar com ideias para que juntas consigamos tornar a vida de outros parkinsonianos mais leve enquanto o sonho do Hugo e de todos nós de noticiar a cura do Parkinson não se concretiza. Bjo.

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  2. Fico muito feliz com essa aquisição. Com "poetas" conseguiremos vencer com menos rudeza as adversidades que estão se avizinhando de cada um de nós, parceiros do indesejado Mr Parkinson. Obrigado Koka, seja bem-vinda!

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    1. Obrigada a você por ter me ensinado tanto, por ter me recebido na tua casa, por ter me convidado a colaborar e por continuar passando informações e esperança enquanto esperamos o dia em que este blog divulgará a cura da DP.

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