quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

"A visão otimista prolonga a vida", afirma médico e escritor Fernando Lucchese

Cardiologista fala sobre alguns pontos do seu último livro, Coração: modo de usar - o manual do proprietário
01/12/2016 - Foram quatro anos de trabalho até que cardiologista Fernando Lucchese colocasse o ponto final em um projeto diferente, por assim dizer. "Coração: modo de usar - o manual do proprietário", mais recente livro do cardiologista, foi inspirado nos tradicionais (e já esquecidos) manuais aos usuários e tem como objetivo elucidar as principais dúvidas dos pacientes em relação ao órgão e suas doenças. Tudo em uma linguagem clara e compreensível para leigos. Com 40 anos dedicados à medicina, Lucchese é diretor do Hospital São Francisco de Cardiologia e Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre e autor de mais de 20 livros.

Por telefone, ZH conversou com o especialista sobre a obra. Confira os principais trechos.

Por que a escolha de um manual?
No consultório, nós fazemos isso todos os dias e é muita informação, o paciente não capta. Chega um momento que ele embaralha, porque começa a pensar na doença, fica nervoso e não ouve nada. O livro é um complemento da consulta. Todos os meus livros da área médica tiveram este objetivo, de apoiar a consulta do paciente, as necessidades dele. Além disso, as informações que estão disponíveis na internet são muito desconexas. A consulta feita em um livro que tenha informações verídicas dá um nível de segurança muito maior. A rede está informando mal. Levei quatro anos para fazer este livro, fui coletando ao longo do tempo as dificuldades maiores dos pacientes. E por isso fiz o livro em cinco partes: uma de história para mostrar a anatomia para o paciente, a segunda com as doenças mais comuns, na terceira, um manual de manutenção preventiva, na quarta, o manual dos consertos da "máquina" e, na última, uma miscelânea com revisão de curiosidades. Antes de começar a escrever este livro, eu li o manual inteirinho do meu carro. Pensei tem que ser uma coisa de consulta mesmo. A criança não nasce com a lógica de como usar o coração. Só tem uma forma para desenvolver este conhecimento: lendo manual.

Coração tem prazo de validade?
Nosso sistema vascular envelhece antes que o resto do corpo. A aterosclerose foi uma doença que envelheceu as artérias do ser humano e acabou limitando a sobrevida. Hoje, com todas as tecnologias, todos os avanços, a doença cardiovascular é a que mais mata. Nosso corpo vive mais do que as nossas artérias. Músculos e ossos duram mais. Nossos vasos é que nos limitam. Tudo é a questão do nosso sistema cardio-cérebro-vascular limitando a vida humana. Agora, estamos superando uma série de limitações porque está se conseguindo fazer uma boa educação continuada das pessoas. Esse fato conseguiu prolongar um pouco mais a nossa vida pois todos estão aprendendo sobre manutenção preventiva. Mas nós ainda estamos limitados.

Por que a aterosclerose é tão preocupante?
A aterosclerose é a maior epidemia de todos os tempos. É uma doença muito antiga, já foi identificada nas múmias do Egito. Agora, na escalada do século 20, ela ficou muito mais presente como causa de óbito porque o estilo de vida do ser humano mudou. Isso consistiu em comida de pacotinho, industrialização do alimento. Nós ainda não temos ideia da dimensão deste problema. Segunda coisa: sedentarismo. A nossa geração é uma geração sentada, e só piora porque a gente não vê nenhum estímulo. Estilo de vida é a forma de viver mais. Genética te dá 20% de contribuição para longevidade, assistência médica, 10%, meio-ambiente, 18% e o estilo de vida saudável te dá 53%. Antes, se falava em qualidade de vida, mas isso rima com conforto, transporte, moradia. Estilo de vida é mais do que isso. É igual à saúde, que é igual a felicidade. A gente tem de ser feliz no dia a dia.

Como a espiritualidade influencia na nossa saúde?
A espiritualidade vem sendo estudada na saúde e na doença. Na doença, fica claro que o indivíduo com espiritualidade ativa processa melhor o problema, no sentido de aceitar melhor, de tratar mais adequadamente. Não estamos indicando a espiritualidade como tratamento, mas como apoio a ele. Isso faz diferença no resultado. Na saúde, é a questão da aceitação. Existem duas maneiras de ser rico: uma é ter muito dinheiro, outra é estar muito contente com o que se tem. As duas maneiras levam ao mesmo efeito final, até diria que o sujeito que está contente com pouco tem maior longevidade do que aquele que tem de trabalhar para manter o que tem.

No livro, o senhor fala que raiva, inveja e vaidade prejudicam a saúde. Como?
São as famosas doenças da alma. Somos corpo, mente e espírito, um tripé. Quando um dos três pés adoece, ele influencia nos outros. Não podemos dizer que o sujeito invejoso, raivoso, é um doente mental. É uma forma de comportamento que atinge o corpo. Hoje, temos informações concretas de que o raivoso tem mais infartos do miocárdio do que o engolidor de sapo. Já o fator inveja mobiliza a humanidade. O ser humano é infeliz pela comparação entre as pessoas. Estudos mostram que quem está feliz com a vida que tem vive em média sete anos mais do que quem está em conflito. A visão otimista prolonga a vida.

Fugir do noticiário e ter um cão são algumas receitas de felicidade mencionadas em seu livro. Por quê?
Somos extremamente suscetíveis as más notícias que acontecem na nossa volta. Só nós ficamos deprimidos por termos acompanhado de perto essas notícias. De vez em quando, temos de suspender a televisão e assistir desenho animado! E ter um cão é porque eles são solidários. A solidariedade ajuda muito na sobrevida e na saúde. É um dos aspectos importantes do estilo de vida. Fonte: Zero Hora.

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