segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

MACONHA. MUITA CONTROVÉRSIA QUANTO A SEUS EFEITOS NO CÉREBRO

24 DE JANEIRO DE 2016 - A erva chamada maconha, conhecida nos Estados Unidos como marijuana, e um seu derivado em forma de resina, o haxixe, são, depois do álcool, as drogas “leves” mais usadas em todo o mundo. Apesar de seu uso ser, hoje, em certos lugares, mais comum do que o do tabaco, ele está longe de ser inócuo.

A maconha é com certeza uma das drogas mais estudadas do mundo, o que não a livrou de muita controvérsia com relação a seus efeitos. Os estudos científicos sobre planta e os efeitos provocados pelo seu uso desembocam em três vertentes principais. Uma delas é inclusive responsável pela descoberta de importantes virtudes medicinais do canabidiol, princípio ativo da Cannabis sativa, nome científico da maconha.

Uma outra vertente, a mais difundida, sugere que o uso da substância e seus derivados – sobretudo na adolescência – está ligada a processos de declínio cognitivo e das funções intelectuais. Algumas instituições de saúde bastante sérias não hesitam em condenar severamente o uso da droga. Este é o caso, por exemplo, do Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, que em seu site (www.einstein.br/alcooledrogas ) enumera os seguintes efeitos do consumo da maconha:

- pioram a atenção e a concentração, aumentando os riscos de acidentes.
- podem desencadear quadros agudos de pânico e paranoia.
- o uso em grandes quantidades e por longos períodos pode deixar a pessoa
menos concentrada, sem objetividade e desmotivada.
- podem causar dependência.
- podem causar psicose em pessoas predispostas a essa doença.

A ação do haxixe é semelhante à da maconha. Ambos derivam do cânhamo (Cannabis sativa) , natural da região do Himalaia, sendo a China o país onde se encontram as evidências mais antigas de consumo. O cânhamo pode ser consumido a partir de diferentes apresentações. A apresentação “maconha” refere-se aos brotos ressecados ou prensados, e é normalmente fumada. Essa apresentação não ultrapassa 5% de concentração de THC (princípio ativo). O haxixe é a resina da maconha. Os brotos da maconha são protegidos do sol e do calor por uma camada oleosa. Esse óleo é rico em (THC). Para a produção do haxixe os brotos são colhidos e o óleo, isolado. Isso garante à apresentação uma concentração de até 30% de THC.

Pesquisa foi com grupo de gêmeos

Um novo estudo, no entanto, envereda pela primeira vez na direção de uma terceira vertente, e aprofunda a controvérsia. Os pesquisadores que conduziram o estudo não encontraram evidências de que o uso dessa droga produza danos ao desenvolvimento intelectual dos adolescentes, como afirmam investigações científicas precedentes.

A pesquisa envolveu um grupo de cientistas de várias universidades norte-americanas, capitaneado pela University of South California, em Los Angeles, e  pela University of Minnesota, e levou em consideração pela primeira vez dois estudos longitudinais com grupos de gêmeos, de maneira a isolar, em igualdade de condições ambientais e de fatores genéticos, a eventual diferença no desenvolvimento cognitivo de quem durante a adolescência tinha usado a droga e de quem não a tinha usado.

Quase três mil gêmeos entre os 9 e os 11 anos foram recrutados. Durante dez anos esses rapazes e moças, às portas da adolescência no momento do recrutamento, foram submetidos a diversos testes de inteligência e a entrevistas confidenciais nas quais declaravam se estavam usando marijuana, e também outras drogas, fármacos e álcool.

No final do período, os jovens que declararam ter feito uso de cannabis tinham perdido até quatro pontos do seu quociente intelectivo. Mas – e este é o ponto crucial – o mesmo ocorreu a seus irmãos gêmeos que declararam nunca ter fumado maconha. Foi esse o resultado que levou os pesquisadores a concluir que os danos ao cérebro, ou melhor, ao desenvolvimento cognitivo, devem ter sido provocados por algum outro fator, e não se podia condenar com certeza a maconha.

O debate, contudo, ainda está longe de uma conclusão. No caso dessa pesquisa com gêmeos norte-americanos, por exemplo, diversos especialistas entrevistados pela revista Science encontraram pontos frágeis na metodologia usada pelos pesquisadores. Em particular, referem-se ao fato de que, no estudo, não foi feita, pelo menos inicialmente, uma distinção precisa entre os adolescentes que fizeram um uso pesado da maconha, daqueles que fizeram apenas um uso esporádico e ocasional. Por ter fumado apenas uma vez um baseado, um rapaz poderia ter sido classificado como “utilizador” e considerado como tal em todas as análises sucessivas.

Dessa forma, embora as conclusões desse novo estudo sejam verossímeis, não se pode afirmar que tenhamos chegado a uma resposta definitiva se fumar maconha faz realmente mal aos adolescentes e ao seu cérebro.

1 Uma história muito antiga – Embora as origens exatas da Cannabis sativa (a planta da qual se extrai a maconha) não sejam conhecidas, acredita-se que essa planta seja originária da Ásia central. As primeiras evidências tangíveis da sua utilização remontam ao Neolítico (8 mil a 5 mil antes de Cristo), quando ela se chamava cânhamo e foi utilizada para produzir fibras têxteis e redes de pesca, e para o consumo de suas sementes. Traços dessas práticas foram encontrados em sítios neolíticos da China, Sibéria, Taiwan, Turquestão e Hong Kong. Resíduos de cannabis queimados foram encontrados na Romênia. O mais antigo testemunho literário da maconha ligada a usos médicos foi encontrada na literatura chinesa.

2 Maconha, cannabis, marijuana - Quando se fala de “erva”, o que quase sempre se observa é uma confusão terminológica. A maconha é uma substância psicoativa que se obtém a partir das folhas e dos brotos da maconha; a marijuana inclui na mistura também as florescências da Cannabis sativa. Nem todas as variedades desta planta, no entanto, são usadas para tais finalidades recreativas: apenas aquelas variedades que pertencem ao genótipo THCAS (vulgarmente definidas como “cânhamo indiano” possuem efeitos psicoativos devido a seu conteúdo de tetraidrocanabinol (THC), uma substância psicotrópica que provoca euforia, relaxamento muscular e nervoso, apetite, desorientação espaço-temporal. O conteúdo normal de THC de uma planta de cannabis é de cerca 5 a 8%, mas hoje surgiram culturas intensivas de variedades que podem chegar a 38% de THC, ou seja, 5 a 6 vezes mais.

3 Dependência e tolerância – Os efeitos do consumo da marijuana podem ser diversos segundo o gênero. Um estudo com ratos feito em 2014 por psicólogos da Washington State University evidenciou que as fêmeas são mais sensíveis aos efeitos analgésicos do THC e desenvolvem mais facilmente a tolerância à substância (ou seja, é preciso aumentar cada vez mais a dose administrada para se obter o mesmo efeito), um fenômeno que pode abrir as portas à dependência. A diferença seria provocada pelo papel dos estrogênios, os principais hormônios femininos. De qualquer forma, na Europa, no Brasil e em quase todo o mundo, os homens fumam mais baseados de maconha do que as mulheres: em média, para cada dois consumidores masculinos corresponde uma única consumidora feminina.

4 Perigosa na adolescência - Completamente unissex, no entanto, são os danos que o consumo constante  de maconha pode produzir  no cérebro – ainda em fase de desenvolvimento – dos adolescentes., os seus principais consumidores. Nessa fase da vida, o cérebro vive um processo contínuo de evolução, caracterizado pelo incremento, fortalecimento e adensamento de precisas conexões neuronais. O correto funcionamento das suas células é, portanto, essencial. O THC é similar aos endocanabinoides, neurotransmissores naturais do cérebro, e interfere na ação destes comprometendo as funções nervosas. Prejudicando as sinapses e deixando os neurônios do seu sistema natural de regulação, o THC pode favorecer, com o tempo, o surgimento da depressão, esquizofrenia, psicoses e distúrbios do aprendizado. Para alguns pesquisadores, o uso constante da maconha nessa fase particular do desenvolvimento (adolescência) termina produzindo danos permanentes nas conexões neurais.

5 Riscos paralelos – A ação prolongada do THC foi também relacionada a danos não neurológicos, como um risco redobrado de desenvolver um tumor nos testículos ( por alteração do sistema endocanabinoide, que desempenha papel importante na regulação da síntese dos hormônios sexuais), e um acentuado risco de enfarte (porque aumenta a frequência das batidas do coração e a pressão sanguínea). No entanto, os benefícios da maconha em âmbito médico – e portanto controlado – são conhecidos há milênios e incluem efeitos analgésicos sobre dores crônicas ou de doentes terminais, a atenuação dos efeitos de doenças auto-inflamatórias e de alguns distúrbios ligados às demências, benefícios contra a artrite, a doença de Parkinson e os efeitos colaterais da quimioterapia, e bons resultados no tratamento da ansiedade patológica e o distúrbio de estresse pós-traumático.

6 Uma bomba chamada sinsemilla – A variedade mais potente de maconha é a sinsemilla (“sem semente”, em espanhol) que se obtém impedindo-se a polinização das florescências da planta fêmea da cannabis. A planta fica assim destituída de sementes e produz um alto conteúdo de resina, com alta concentração de THC.

7 Efeitos nos cachorros – Os animais domésticos não são imunes aos efeitos do THC: o “fumo passivo” exerce nos cães um efeito muito mais macroscópico do que nos humanos. As estatísticas mostram que ocorre um aumento de casos de cães que terminam no pronto-socorro veterinário por ter comido por engano pedacinhos de haxixe esquecidos pelos seus donos. Quando isso acontece, os animais apresentam pupilas dilatadas, híper-excitação e descontrole de movimentos musculares. A terapia consiste de lavagens gástricas e de sustentação das funções vitais do animal,  esperando-se que o efeito da droga passe no período de 24 horas.

8 Fome química – Não é sugestão: fumar maconha realmente aumenta a fome, e o motivo mais uma vez é o THC. Esse princípio ativo se liga, com efeito, a uma molécula presente nos neurônios do bulbo olfativo, a zona do cérebro que recebe os estímulos provenientes do nariz. Como resultado, a sensibilidade aos odores fica amplificada, aumentando de fato o apetite.

9 Um uso bem curioso – O cânhamo teria uma ligação inesperada também com os misteriosos moais da Ilha de Páscoa. Segundo um estudo da California State University, publicado em 2012, para deslocar as colossais estátuas de mais de 4 toneladas de peso os antigos polinésios podem ter usado cordas de fibra de cânhamo entrelaçadas. Puxadas por grupos de cerca 20 pessoas, elas permitiriam transportar as esculturas por 100 metros em pouco menos de uma hora.

10 Erva mágica dos rastafári – Para os seguidores do movimento rastafári, desenvolvido a partir dos cultos cristãos na Jamaica a partir da década de 1930, a maconha não é apenas uma erva medicinal, mas também um vegetal sagrado para ser usado como auxílio na meditação e durante as orações. Os rastafári acreditam que o seu uso seja citado na Bíblia e que ele seja necessário para se alcançar uma espécie de iluminação espiritual.

11 Longe da ecologia – O cultivo da cannabis não é exatamente uma atividade “verde”, a não ser que a planta seja cultivada no externo, ou com o uso de lâmpadas LED de baixo consumo. Com base num relatório publicado em 2011 pelo Lawrence Berkeley National Laboratory (EUA), para um único baseado são produzidos, nas cultivações em estufa, cerca de 0,9 kg de CO2, o equivalente do quanto emite uma lâmpada acesa durante 17 horas.
Fonte: Brasil.247.

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