domingo, 17 de janeiro de 2016

Em 15 anos, RS terá um quarto da população formada por idosos

Envelhecimento acelerado dos gaúchos representa um grande desafio para gestores públicos — e um risco para a previdência

16/01/2016 - O Rio Grande do Sul está ficando grisalho e as rugas começam a se acentuar em ritmo acelerado. O envelhecimento da população mostra algo a ser comemorado — vivemos mais — ao mesmo tempo que aponta um problema — não estamos preparados para entrar na terceira idade. Atualmente, o número de idosos equivale a 15,65% dos habitantes. Em 15 anos, vai saltar para 24,27%, patamar igual ao da Áustria hoje, aponta levantamento realizado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), a pedido de Zero Hora.

O que impressiona especialistas é a velocidade da mudança. Até 2030, todo o Brasil vai passar por uma transformação que levou 115 anos para se consolidar na França. O Rio Grande do Sul é o Estado onde este processo se dá de forma mais acelerada. Fonte: Zero Hora.

A evolução abrupta da idade média dos habitantes vai exigir, muito em breve, mais investimento na área de saúde, gerada pelo aumento na procura por serviços médicos, e gastos mais elevados com previdência — em um país e Estado que já enfrentam hoje uma grave crise nas contas públicas. Mas não é só isso. Exigirá ainda modificações no planejamento urbano dos municípios, que passarão a conviver com um número cada vez maior de idosos, e também no sistema educacional, já que será preciso ter trabalhadores mais instruídos, capazes de gerar mais renda e fazer frente ao número menor de contribuintes.

É uma realidade já vivida por 36 pequenos municípios gaúchos, que têm 25% ou mais dos habitantes acima de 60 anos. A projeção é que nos próximos 15 anos serão centenas de cidades com menos poluição e violência, mas sob risco de grave estagnação econômica e habitantes com renda média.
Uma diferença importante quando comparado com o cenário vivido na Europa e no Japão. Lá, a renda, em média, é bem mais alta. É como se tivessem guardado dinheiro para usufruir da aposentadoria e os brasileiros, envelhecido sem ter tido tempo de fazer toda a poupança necessária.
— Muitos se preocupam com o excesso de população no mundo atual, mas está na hora de começarmos a nos preocupar com a escassez de pessoas. Há uma tendência global de menor fecundidade, principalmente nos países mais populosos. Na China, a fecundidade já é patética e, na Índia, que ainda cresce mais, está diminuindo — afirma o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Alberto Magno de Carvalho, que já foi presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais e da International Union for Scientific Study of the Population, a associação internacional mais importante em demografia.

A quantidade menor de pessoas em idade ativa, alertam pesquisadores, pode condenar o país — e o Rio Grande do Sul — a permanecer com renda muito abaixo da alcançada em economias desenvolvidas. A experiência vivida em três pequenas localidades, Coqueiro Baixo, Coronel Pilar e Santa Tereza, com os maiores percentuais de idosos no Estado, aponta alguns desafios à frente e ensina lições que podem ajudar outras cidades a se preparar para os efeitos do envelhecimento. Esses municípios no Vale do Taquari e na Serra amplificam características já percebidas no Rio Grande do Sul em menor escala: as pessoas vivem mais, graças à melhor condição de vida, as mulheres têm cada vez menos filhos e os jovens migram em busca de emprego.
"O envelhecimento muda o perfil das políticas públicas necessárias para o país."

Sabino da Silva Porto Junior, professor de Economia da UFRGS
Em Santa Tereza, Roberto Michelon, 69 anos, Nelcy Vignatti, 77, e Arlindo Stringhinni, 68, contam que há tranquilidade, abalada na semana passada por um assalto com refém, mas a evasão de jovens preocupa. Em Coqueiro Baixo, um terço da população já tem 60 anos ou mais. No local de 1.537 habitantes, é possível encontrar um lugar tranquilo para viver. Mas enfrenta entrave econômico que pode colocar em xeque a qualidade de vida alcançada. O município, que tem a agropecuária como motor, vê a arrecadação diminuir em meio à crise e, principalmente, com a saída dos moradores mais novos e a aposentadoria dos mais antigos.

Terezinha Salvi Scartezini, 68, presenciou a partida das gerações mais novas. Nascida na área rural do município, teve oito filhos. Nenhum deles vive hoje em Coqueiro Baixo. Quatro estão Portugal, onde atuam no ramo de restaurantes, e quatro se mudaram para Porto Alegre.

Após décadas atuando na área rural, Terezinha e o marido estão aposentados e se mudaram para o centro do povoado, em busca de mais estrutura.

— Era uma vida muito difícil. A gente acordava e ia para roça, tirava leite das vacas, corria em casa para fazer o almoço e voltava para roça. Agora que tenho mais tempo livre estou realizando um sonho antigo, aprender a tocar gaita — diz, orgulhosa.

Para Ana Amélia Camarano, técnica de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e doutora em demografia pela London School of Economics, a única saída para evitar o rápido envelhecimento da população e a queda no número de habitantes seria um aumento da taxa de fecundidade por meio de políticas públicas, ação que o Brasil já deveria estar fazendo:

— Um menor número de filhos leva a outro fenômeno que vamos viver em breve, a queda na população. No Brasil, a partir de 2035, no Rio Grande do Sul, 2029. Quem vai sustentar esse contingente grande de idosos se a população cair cada vez mais?

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