quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cientistas identificaram molécula que desencadeia Parkinson

Pesquisa poderá resultar em nova frente de tratamento para a doença degenerativa

20/10/2016 - A baixa produção de dopamina está ligada ao surgimento do Parkinson, doença degenerativa que causa tremores, diminuição dos movimentos voluntários e instabilidade postural. Entender como se dá esse processo no cérebro, porém, intriga cientistas. Um grupo dos Estados Unidos, em parceria com uma brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), parece ter avançado nesse sentido. Eles identificaram uma proteína, a alfa-sinucleína, que, em excesso no cérebro, interrompe a produção de dopamina e o que está por trás desse acúmulo. Detalhes do estudo foram divulgados na edição desta semana da revista Science. A expectativa é de que eles ajudem na criação de tratamentos mais eficazes para o problema, que atinge de 1% a 2% da população mundial com mais de 65 anos.

Os autores usaram como base trabalhos anteriores que encontraram grandes quantidades de alfa-sinucleína em cérebros autopsiados de pessoas que tiveram Parkinson. Também escolhido como referência, um estudo feito por cientistas da Universidade de Goethe, na Alemanha, mostrou que a doença progride por meio de agregados dessa proteína. Eles acabam afetando estruturas cerebrais responsáveis pelo movimento e por funções básicas, como a memória e o raciocínio. “Houve muito ceticismo no começo, mas, em seguida, outros laboratórios mostraram que a alfa-sinucleína pode se espalhar de célula a célula”, declarou, em comunicado à imprensa, Ted Dawson, principal autor do estudo e diretor do Instituto de Engenharia Celular da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

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Dawson e seus parceiros, incluindo Rafaella Araújo Gonçalves, da UFRJ, resolveram investigar os mecanismos ligados à produção da alfa-sinucleína a fim de descobrir uma maneira de cessar os excessos. Em testes de laboratório, identificaram três proteínas-chaves com essa função, sendo que uma delas, a LAG3, se mostrou a mais importante. A segunda etapa da investigação envolveu experimentos com ratos, que receberam injeção de grande quantidade de alfa-sinucleína. Em seis meses, as cobaias desenvolveram sintomas do Parkinson e metade dos seus neurônios produtores de dopamina morreu.

A equipe também modificou roedores para que não tivessem a proteína LAG3, que provoca o acúmulo da alfa-sinucleína no cérebro, e repetiu o processo. A cobaias sofreram os mesmos efeitos negativos do primeiro teste, mas em menor escala. “Ratos típicos desenvolveram sintomas de Parkinson logo depois de receberem a injeção e, no prazo de seis meses, metade dos neurônios produtores de dopamina havia morrido. Mas os ratos sem LAG3 foram quase que totalmente protegidos desses efeitos”, comparou Dawson.

Para a equipe, essa diferença se deu porque a LAG3 bloqueia os anticorpos que combatem o Parkinson. Em testes com neurônios cultivados em laboratório, observou-se esse mecanismo de defesa, o que reforça a hipótese. “Ficamos animados por ter visto como a alfa-sinucleína se espalha através do cérebro, mas também que o seu progresso pode ser bloqueado por anticorpos existentes”, destacou Xiaobo Mao, um dos autores do trabalho e pesquisador da Universidade Johns Hopkins.

Multifatorial
Delson José da Silva, chefe da Unidade de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), avalia que os resultados obtidos reforçam a hipótese de que o Parkinson é uma doença multifatorial. “A da proteína alfa-sinucleína em excesso entra dentro de uma suspeita que existe na área, a de que o Parkinson pode ser provocado por uma reação autoimune”, explicou. Segundo o especialista, esse acúmulo de proteína — ela chega a triplicar de tamanho e ganha uma forma fisiológica agressiva — pode levar à morte dos neurônios.

Silva acredita que o futuro das pesquisas na área está em descobrir maneiras de evitar que a alfa-sinucleína se multiplique e afete o cérebro. “Hoje em dia, os tratamentos para Parkinson estão focados no aporte da dopamina, que é um dos neurotransmissores afetados pela doença. Todos os remédios tentam estimular a produção dessa substância, o que ainda não resulta na cura. Se essa proteína for realmente responsável pelos danos causados no cérebro, teríamos uma outra estratégia de tratamento, com foco na raiz do problema. Uma solução que poderia evitar a propagação dessa substância e impedir, assim, a evolução do Parkinson.”

Neurotransmissor em queda

A dopamina é uma substância química que tem como função auxiliar a transmissão de mensagens entre as células nervosas, além de auxiliar na realização de movimentos voluntários do corpo, guiando os músculos. Com o envelhecimento, esse neurotransmissor pode sofrer reduções, algumas pessoas apresentam quantidades extremamente baixas, gerando dificuldades de locomoção, uma das características do Parkinson. A reposição do neurotransmissor é o tratamento mais explorado, o que reduz os sintomas melhora a qualidade de vida. Há a suspeita de que a doença degenerativa tenha também causas genéticas, que agiriam com fatores ambientais, como a exposição a resíduos químicos, agrotóxicos e outros produtos tóxicos. Fonte: Uai.

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