sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Parkinson: o papel de duas proteínas no possível desenvolvimento da doença

18-09-2015 - Cientistas norte-americanos descobriram que duas proteínas que partilham responsabilidades no processamento do “lixo” celular não só necessitam uma da outra para cumprir as suas funções como também podem contribuir para a doença de Alzheimer quando não trabalham em conjunto, revela um estudo publicado no “Journal of Neuroscience”.

Tal como as redes de processamento do lixo urbano, também as células possuem locais, denominados lisossomos, para onde as proteínas com função afetada (devido a idade ou outras razões) são enviadas para serem degradadas e recicladas, explica em comunicado Wen-Cheng Xiong, investigador da Escola de Medicina da Universidade Georgia Regents.

No interior dos lisossomas, outras proteínas, denominadas protéases, realizam o aproveitamento dos
componentes úteis (como os aminoácidos) das proteínas que já não conseguem realizar as suas
funções. A este processo de degradação celular é dado o nome de autofagia, que é considerado um
mecanismo importante para a sobrevivência celular, nomeadamente dos neurónios, que se regeneram de forma extremamente lenta.

Neste processo de autofagia atuam ainda outras duas proteínas: a VPS35 e a Lamp2a.

A primeira é fundamental na recuperação de proteínas vitais para a função celular. Com a idade, os
níveis desta proteína vão decrescendo, tendo algumas mutações do gene que codifica para esta
proteína sido encontrados em pacientes com formas raras da doença de Alzheimer.

A Lamp2a presta apoio no processo de degradação das proteínas que já não conseguem cumprir a sua função.

A relação entre estas proteínas é ainda mais estreita se se considerar que é a VPS35 que recupera a
Lamp2a das proteínas em fim de vida de forma a esta poder ser reutilizada, caso contrário esta seria
degradada juntamente com o resto do “lixo” celular.

Para esta investigação, os cientistas criaram ratinhos sem a VPS35. Estes animais apresentaram
sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson, nomeadamente problemas ao nível do controlo
motor. Além disso, os cientistas descobriram que os lisossomas no interior dos neurónios produtores de dopamina – um dos alvos na doença de Parkinson – não funcionavam como deviam nestes animais. Na ausência da VPS35 a degradação da Lamp2a foi acelerada, levando a que os níveis da proteína alfasinucleína, que é normalmente destruída pela Lamp2a, aumentassem. A alfa-sinucleína é um dos principais componentes dos agregados proteicos anormais denominados corpos de Lewy, encontrados no cérebro de doentes de Parkinson.

Quando os cientistas aumentaram a expressão da Lamp2a nos neurónios produtores de dopamina
destes ratinhos, os níveis da alfa-sinucleína reduziram. De acordo com os autores do estudo, isto
confirma a relação destas três proteínas na capacidade fundamental apresentada pelos neurónios de
lidarem com componentes indesejáveis nos seus lisossomas.

Sem a Lamp2a, os neurónios produtores de dopamina basicamente começam a produzir mais “lixo” do que aquele que é eliminado. Importantes aminoácidos deixam de ser recuperados e as alfa-sinucleínas passam a poder deslocar-se para outros locais nas células ou regiões do cérebro onde podem provocar danos a proteínas importantes. Neste cenário, em vez de preservados, os neurónios são destruídos, o que explica os espaços em branco nos locais onde antes estavam neurónios detetados em pacientes com doenças neurodegenerativas.

Tal como num ciclo vicioso, à medida que o “lixo” se vai acumulando no cérebro, as proteínas iniciam um processo de má conformação e de disfuncionalidade, proteínas potencialmente destrutivas acabam por ser deslocadas para os sítios errados ou ativadas/desativadas erradamente e as proteínas boas são eliminadas e as más acumulam-se.

“Está tudo ligado”, resume Xiong, que considera que juntar todas estas pequenas peças poderá permitir aos cientistas identificar novos alvos terapêuticos. Fonte: Banco da Saúde.

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