Anvisa discutirá
este mês a regulamentação do cultivo da planta para uso medicinal;
mercado quer desenvolver remédio para epilepsia
03 Julho 2018 |
BRASÍLIA - A previsão de a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária regulamentar o plantio de maconha para pesquisa e uso
medicinal já começa a movimentar o mercado brasileiro. Pelo menos
duas empresas foram criadas no País nos últimos anos com objetivo
de ingressar no setor que, garantem, é muito promissor.
O plantio de maconha
para pesquisa e preparo de medicamentos já é permitido em lei. Mas,
para que isso se concretize, é necessário que haja regulamentação:
regras que determinem quem, como e onde o cultivo pode ser realizado.
É justamente isso que a Anvisa deve começar a discutir neste mês.
Entre os pontos que serão definidos estão se o plantio será em
estufas, em locais abertos, e como será a segurança.
“Somente com
fitoterápicos usados para o tratamento da dor, o cálculo é de que
possamos movimentar R$ 2 bilhões por ano”, afirma Mário Grieco,
diretor da Knox Medical, empresa americana especializada na produção
e na venda de Cannabis sativa (o nome científico da maconha)
medicinal.
A Knox iniciou suas
operações em fevereiro e busca no Sudeste a área ideal para
construir uma fábrica. Em Valinhos (SP), foi montada a Entourage
Phytolab, uma empresa que já investiu US$ 4 milhões (cerca de R$
15,6 milhões) para pesquisas e desenvolvimento de uma estrutura que
abra caminho para a produção de medicamentos à base de Cannabis no
Brasil.
As duas empresas têm
como meta inicial produzir um medicamento para epilepsia refratária
– forma da doença que não responde às drogas no mercado. Mas a
lista de novas drogas potenciais é significativa. A Entourage, por
exemplo, concluiu há pouco a formulação do primeiro medicamento.
Além disso, já tem outras quatro composições na fila, que deverão
também ser desenvolvidas.
“Listagem feita
por autoridades sanitárias canadenses traz 39 doenças que poderiam
ter como indicação medicamentos feitos com Cannabis”, diz Caio
Abreu, diretor da Entourage. Há estudos que indicam melhora para
pacientes com Alzheimer, Parkinson, glaucoma, fibromialgia e Doença
de Crohn.
O nome da empresa
dirigida por Abreu é uma referência ao efeito combinado dos vários
componentes da Cannabis. A planta tem cerca de 80 canabinoides. Os
mais conhecidos são canabidiol e o THC (tetraidrocanabinol) entre
outros 400 componentes. Alguns estudos indicam que o uso combinado de
seus componentes pode ser mais eficaz e seguro que substâncias
isoladas. “Essas combinações podem ter ação mais abrangente e
reduzir também efeitos adversos”, diz Abreu.
Custos. Hoje, para
fazer pesquisas com Cannabis é preciso importar o produto. Cada
grama, diz Abreu, custa em torno de US$4 (R$ 15). “Se fizéssemos o
próprio cultivo, os custos poderiam ser um quinto disso.” A
Entourage já tem pronto o projeto para o galpão onde o plantio
poderia ser feito. As obras, porém, terão início só quando a
discussão estiver mais definida.
A liberação do
plantio é só um dos aspectos acompanhados pelos empresários. Há
também expectativa sobre como será a regulação. Em alguns países,
como Holanda, Canadá e Israel, o uso de produtos terapêuticos
derivados da maconha foi feito com dispensa de todo ritual que
norteia a liberação de remédios, como pesquisas clínicas.
Não se sabe ainda
se no País tal estratégia, chamada de mercado de acesso, será
repetida. Por isso, a Entourage tem dois planos. Se a pesquisa
clínica for dispensada dentre as exigências para registro do
produto, investirá no desenvolvimento de outras combinações. Caso
contrário, já tem pronto um modelo de pesquisa com pacientes para a
formulação desenvolvida para epilepsia refratária. Fonte: O Estado de S.Paulo.
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